ATA DA SEXAGÉSIMA SESSÃO
SOLENE DA TERCEIRA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA TERCEIRA LEGISLATURA,
EM 11-12-2003.
Aos onze dias do mês de
dezembro de dois mil e três, reuniu-se, no Plenário Otávio Rocha do Palácio
Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre. Às dezenove horas e trinta e
cinco minutos, constatada a existência de quórum, o Senhor Presidente declarou
abertos os trabalhos da presente Sessão, destinada à entrega do Título
Honorífico de Cidadão Emérito ao Senhor Luiz Vicente Vieira Dutra, nos termos
do Projeto de Resolução n° 088/03 (Processo n° 5209/03), de autoria do Vereador
Beto Moesch. Compuseram a MESA: o Vereador João Antonio Dib, Presidente da
Câmara Municipal de Porto Alegre; o Cônego Irineu Brandt, representante do
Arcebispo da Arquidiocese de Porto Alegre; Dom Sinésio Bohn, Bispo de Santa
Cruz do Sul - RS; o Desembargador Francisco Moesch, representante do Tribunal
de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul; o Senhor Geraldo Stédile, Presidente
do Conselho de Cidadãos Honorários de Porto Alegre; o Senhor Luiz Vicente
Vieira Dutra, Homenageado; a Senhora Helena Maria Dutra, esposa do Homenageado;
o Vereador Beto Moesch, na ocasião, Secretário “ad hoc”. A seguir, o Senhor
Presidente convidou a todos para, em pé, ouvirem a execução do Hino Nacional e,
após, concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. O
Vereador Beto Moesch, em nome das Bancadas do PCdoB, PMDB, PPS e PT, discorreu
a respeito da trajetória profissional do Homenageado, declarando ser o Senhor
Luiz Vicente Dutra exemplo de liderança empreendedora e marcada por uma ativa
participação política, em especial junto à comunidade do Bairro Petrópolis. Na
ocasião, o Senhor Presidente registrou a presença dos Senhores Cleom Guatimozim
e Rubem Thomé, ex-Vereadores desta Casa. Após, foi dada continuidade às
manifestações dos Senhores Vereadores. O Vereador Reginaldo Pujol, em nome da
Bancada do PFL, parabenizou o Vereador Beto Moesch pela iniciativa da presente
solenidade, afirmando que o Título hoje entregue representa o reconhecimento
dos porto-alegrenses ao trabalho realizado pelo Senhor Luiz Vicente Vieira
Dutra em prol do desenvolvimento da Cidade. O Vereador João Carlos Nedel, em
nome da Bancada do PP, salientou a importância da solenidade hoje realizada pela
Casa, lembrando atividades políticas coordenadas pelo Senhor Luiz Vicente
Vieira Dutra e lamentando o fato de Sua Senhoria não mais ter concorrido a
cargos eletivos em Porto Alegre. O Vereador Luiz Braz, em nome da Bancada do
PSDB, teceu considerações acerca da sensibilidade política e do
profissionalismo demonstrados pelo Homenageado quando integrou esta Casa,
durante a Sessão Legislativa referente ao período de mil novecentos e oitenta e
nove a mil novecentos e noventa e três. O Vereador Isaac Ainhorn, em nome da
Bancada do PDT, ressaltando o conhecimento jurídico do Homenageado, em especial
quanto a questões relativas ao processo legislativo, citou a presença ativa do
Senhor Luiz Vicente Vieira Dutra quando da elaboração da Lei Orgânica do
Município de Porto Alegre. O Vereador Carlos Alberto Garcia, em nome da Bancada
do PSB, recordou a atuação do Senhor Luiz Vicente Vieira Dutra como Vereador da
Câmara Municipal de Porto Alegre, enaltecendo a capacidade de diálogo e de
busca de integração demonstrada pelo Homenageado durante suas atividades neste
Legislativo. Após, o Senhor Presidente convidou o Vereador Beto Moesch e
familiares do Homenageado a procederem à entrega do Título Honorífico de
Cidadão Emérito ao Senhor Luiz Vicente Vieira Dutra, concedendo a palavra a Sua
Senhoria, que agradeceu o Título recebido. A seguir, o Senhor Presidente
convidou os presentes para, em pé, ouvirem a execução do Hino Rio-Grandense e,
nada mais havendo a tratar, agradeceu a presença de todos e declarou encerrados
os trabalhos às vinte e uma horas e trinta e cinco minutos, convocando os
Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária da próxima segunda-feira, à hora
regimental. Os trabalhos foram presididos pelos Vereadores João Antonio Dib e
secretariados pelo Vereador Beto Moesch, como Secretário “ad hoc”. Do que eu,
Beto Moesch, Secretário “ad hoc”, determinei fosse lavrada a presente Ata que,
após lida e aprovada, será assinada pela Senhora 1ª Secretária e pelo Senhor
Presidente.
O SR. PRESIDENTE (João Antonio Dib): Estão abertos os trabalhos da presente
Sessão Solene, destinada à outorga do Título Honorífico de Cidadão Emérito de
Porto Alegre ao Dr. Luiz Vicente Vieira Dutra. Compõem a Mesa: o ilustre
homenageado e a sua esposa, Helena Maria Dutra – Heleninha para os amigos;
Exmo. Sr. Cônego Irineu Brandt, representante do Arcebispo da Arquidiocese de
Porto Alegre; Dom Sinésio Bohn, Bispo de Santa Cruz; Desembargador Francisco
Moesch, representante do Tribunal de Justiça; o Sr. Geraldo Stédile, Presidente
do Conselho de Cidadãos Honorários de Porto Alegre, o qual sei que vai colocar
o nosso Vicente Dutra a trabalhar; registro a presença e saúdo o Ver. Beto
Moesch, que é o proponente da homenagem; senhoras e senhores, Srs. Vereadores,
representantes da imprensa, demais autoridades.
Convidamos
todos os presentes para, em pé, ouvirmos o Hino Nacional.
(Ouve-se
o Hino Nacional.)
Participei
de muitas e presidi muitas Sessões Solenes de homenagens como esta. Mas hoje eu
presido a Sessão com um pouquinho mais de vaidade. Hoje eu me sinto recebendo
um pedacinho do Título do Luiz Vicente Vieira Dutra. O Cel. Dastro, seu pai,
foi meu companheiro de trabalho na administração do maior Prefeito que esta
Cidade teve, José Loureiro da Silva. Luiz Vicente Dutra foi meu grande
colaborador no Departamento de Limpeza Urbana.
Meu
caro Luiz Vicente, esses dias eu lembrei aqui que nós fizemos uma coisa da qual
não tínhamos idéia da dimensão do que estávamos fazendo, que foi a recuperação
da Vila São Vicente Mártir, escolhida pelo amigo. E nós fizemos a recuperação,
arrumamos toda a Vila, e o nosso projeto terminou na ONU, sendo mostrado na
ONU. E para mim até se constituía de uma dúvida bastante grande sobre o que nós
fazíamos, com a simplicidade que nós fazíamos, com a responsabilidade, é claro,
que nós fazíamos. O Governo do Estado, por meio da Secretaria da Saúde; o
DEMHAB, por meio do Reginaldo Pujol; o DMAE, com Wilson Cignachi; o
Departamento de Limpeza Urbana, com o Vicente Dutra; a SMOV nos ajudou, a
população nos ajudou, e nós pudemos fazer uma coisa singela, sem dúvida
nenhuma, e, no dia em que nós voltamos, estava pronta a obra. Lembro que chovia
como choveu hoje, e nós pudemos caminhar tranqüilamente lá. Isso foi uma coisa
boa. É uma das gratas lembranças que eu tenho. Por isso eu disse que acho que
um pedacinho desta homenagem eu também estou levando.
Mas
não é a mim que cabe fazer o histórico da homenagem.
O Ver. Beto Moesch, proponente desta homenagem, está com a
palavra e falará em nome dos Partidos PT, PMDB, PPS e PCdoB.
O SR. BETO MOESCH: Exmo. Sr. Presidente da Câmara Municipal
de Porto Alegre, Ver. João Antonio Dib. (Saúda os componentes da Mesa.) Saúdo
ainda as demais autoridades presentes. Destaco algumas - desculpem-me talvez a
omissão de algumas: Dr. Antonio Pires, Presidente da ADCE; Dr. Antonio Parizzi,
Presidente da Associação dos Juristas Católicos - instituições que o
homenageado integra; Sr. Antonio Bianchi, Pró-Reitor Administrativo da PUC;
ex-Prefeito Guilherme Socias Villela, que estava conosco também; o Secretário Luiz
Roberto Ponte, que estava aqui também; Gilberto Lehnen, nosso último
homenageado como Cidadão de Porto Alegre, por proposição do Ver. João Carlos
Nedel; Padre Florindo; meus pais, Guido e Ilse.
Nós
nos atrasamos um pouco hoje, porque a Câmara de Vereadores reflete um pouco, ou
até muito, dependendo da esfera em que nós estivermos, as atividades de uma
sociedade ou de uma determinada comunidade.
Nas
mais diversas atividades surgem pessoas que se destacam. Eu já havia falado, em
outra homenagem, há duas semanas, que, para que essas atividades se
solidifiquem, para que nós possamos acreditar em uma Nação, em um Estado, em um
Município, nós precisamos instituir e ao mesmo tempo fortalecer as mais
diversas instituições, para, justamente, solidificar essas atividades e para
que todos possam acreditar em um sistema. E o Brasil ainda está em um processo
de amadurecimento e de fortalecimento das suas instituições.
Mas isso não existiria sem pessoas que se destacam, que nos
dão exemplo, e é por isso que nós estamos aqui hoje, porque, no meio dessa
correria toda, como foi agora, na Câmara de Vereadores, votando o Projeto de
Lei do ISSQN, por exemplo, e tantos outros, no meio dessa atividade intensa,
nós também temos de ter momentos de reflexão e momentos de homenagem às pessoas
que deram não só intensidade, mas uma qualidade a todas essas atividades.
A
Câmara de Vereadores escolhe, dentre essas pessoas que se destacam, o Luiz
Vicente Dutra, que tem um currículo extraordinário. Algumas coisas já sabia por
conhecê-lo desde criança. Nunca me esqueço, na Igreja São Sebastião, quando meu
irmão, Padre Eduardo Moesch, em 1976, mostrava um “santinho” do então candidato
Luiz Vicente Dutra. Mostrava por quê? Porque o meu irmão já o destacava, já me
mostrava, a uma pessoa que tinha então 10 anos de idade – vejam, ele tinha 13
anos na época – uma pessoa que já se destacava no cenário daquela comunidade,
da comunidade de Petrópolis, onde se criou, e, portanto, vizinho nosso, lá no
bairro Petrópolis, onde nasci. Uma pessoa que já se destacava naquela
comunidade da Igreja São Sebastião e do bairro Petrópolis como um todo. Surgia
já ali o legítimo representante de uma respectiva comunidade, de um bairro e da
comunidade da Paróquia São Sebastião.
E
aí fomos, aos poucos, conhecendo a vida do Luiz Vicente Dutra, e nós estamos
aqui para rememorar algumas coisas. Quando eu tinha 16 anos de idade, meu pai
era candidato a Deputado Federal, em 1982, nós fizemos uma dobradinha – te
lembras, Helena, aquele trabalho intenso e difícil? E nós percorremos, porta a
porta, todo o bairro Petrópolis. Fizemos um comitê extraordinário: o pai
elegeu-se Deputado Federal e Luiz Vicente Dutra, que fez 20 mil votos em 1982,
não conseguiu se eleger Deputado Estadual. Com certeza, não era para se eleger
Deputado Estadual, porque uma vida, talvez, muito mais rica do que a de um
mandato de Deputado Estadual o esperava, uma vida que se destaca, como o nosso
Presidente, Ver. João Antonio Dib, de alguma forma, já colocou.
Uma
vida que já se destacava aos 11 anos, no bairro Petrópolis, na Casa dos Amigos
Santo Antônio, que é uma entidade de assistência aos idosos e funciona até
hoje.
Ele
gosta sempre de dizer que foi pára-quedista aos 17 anos de idade, porque mostra
coragem, ousadia, preparo.
Assumiu
o Departamento Jurídico de Cáritas Regional e do Secretariado da Ação Social da
Arquidiocese de Porto Alegre, em 1968. Em 1977, representou a Câmara de Porto
Alegre, já como Vereador desta Casa, liderando um movimento de expressão
nacional em defesa das entidades filantrópicas, ameaçadas, na época, de
perderem a desoneração de tributos, assim como também, mais tarde, de 1986 a
1998, foi chamado – não mais como Vereador - para atuar na Assembléia Nacional
Constituinte, em uma frente de luta, na defesa de propostas em favor das
entidades sem fins lucrativos. Estava lá uma liderança especificamente chamada
para liderar aquele movimento.
Todos
os Vereadores aqui presentes devem prometer cumprir a Lei Orgânica do
Município, pois a nova Lei Orgânica do Município, que é a nossa Constituição
Municipal, digamos assim, vários artigos ali presentes, os quais nós usamos
aqui para melhorar a qualidade de vida da cidade de Porto Alegre, nos embates,
quantos artigos foram de autoria do então Vereador Luiz Vicente Dutra?
Destaca-se o que elevou os recursos
destinados a Educação, de 25% obrigatórios na Constituição Federal, para 30%
dos tributos municipais, e desse montante, 12% para a educação especial, ou
seja, dirigida aos alunos portadores de deficiências e aos superdotados.
Atividade essa, aos deficientes, que ele já atuava muito antes de ser Vereador,
ou seja, ele, ao vir à Câmara de Vereadores, justamente, representou aquilo que
acreditava e já atuava.
Conseguiu
a aprovação da Lei Complementar n.º 51, de 1980, de sua autoria, que proibiu o
abate indiscriminado de árvores, declarando toda a vegetação da Cidade,
inclusive a de terrenos particulares, como de preservação permanente,
necessitando a autorização municipal para abate ou poda. Isso só veio surgir,
em nível federal, em 1998, por meio da Lei dos Crimes Ambientais. Já em 1980,
de forma ousada, muito antes de se falar, de forma mais intensa pela sociedade,
apenas alguns ecologistas que lutavam aqui em Porto Alegre, o então Ver. Luiz
Vicente Dutra não só tinha preocupação com a preservação do meio ambiente, mas
já lutava para colocar instrumentos para a sua defesa, instrumentos objetivos.
Portanto, eu posso dizer, como ecologista, que nós devemos muito, a preservação
da arborização da cidade de Porto Alegre, a volta dos sabiás aqui na cidade de
Porto Alegre, a Luiz Vicente Dutra. Porque colocou um instrumento fundamental,
a necessidade da licença para a poda e corte de árvore, que, na época, era uma
coisa até absurda. E votar projetos de lei é uma coisa, talvez, muito mais
difícil que muitos imaginam; há uma história muito complicada por trás disso.
Se hoje aprovar uma lei dessas já é difícil, imaginem em 1980, quando já
tramitava antes.
Também
na Lei Orgânica, colocou vários artigos de proteção ao patrimônio ambiental, os
quais eu uso muito, Vicente Dutra, como eu uso os artigos de tua autoria na Lei
Orgânica para tentar instituir uma política ambiental no Município de Porto
Alegre. Essa tão difícil conquista de realmente objetivar uma política
ambiental na cidade de Porto Alegre, esse instrumento, tu nos deste. Nós temos
de usar os instrumentos. Não é por menos que recebeu o Título Conservacionista
do Ano, na Assembléia Legislativa, em 1991.
Presidiu,
por designação direta do Governador Amaral de Souza, a Comissão Estadual
Pró-Integração do Deficiente. Propôs a Lei Municipal que permite o ingresso de
deficientes no serviço público municipal. E isso se conseguiu depois, por
intermédio de Lei Estadual; uma conquista também sua no âmbito Municipal e
Estadual.
Foi
Assessor Especial do Governador Synval Guazzelli para assuntos de Educação;
Presidente da Fundasul - Fundação Sul-Riograndense de Assistência -, onde
trabalhou com imigrantes, índios, indigentes, idosos, em que se destaca, por
exemplo, o Programa Pró-Creche; Diretor-Geral do DMLU, como já foi registrado
pelo nosso Presidente, onde conseguiu, Ver. Luiz Braz, uma coisa que nós
tentamos tanto aqui e não conseguimos, educação ambiental por intermédio do
Poder Público, não se vê isso! Permitam-me dizer, talvez, porque não há vontade
política eficaz e real para a educação ambiental, mas, quando estava à frente
do DMLU, tinha vontade política o então Diretor Vicente Dutra e fez um trabalho
que nós estamos tentando resgatar hoje, o da educação ambiental.
Coordenou a Comissão de Saneamento em Vilas Carentes, uma
delas recuperadas, como disse o nosso Presidente, e foi considerada a melhor
experiência nesse setor.
Eu
finalizo dizendo que Luiz Vicente Dutra conseguiu tanto por nós, porque tem uma
formação familiar extraordinária, que começa com seu pai, o Dastro, o famoso
Coronel Dastro, o carismático Coronel, que conviveu com os seus irmãos, a Rosa
e a Cristina, que são funcionárias aqui da Câmara Municipal de Porto Alegre, do
Telmo, do Flávio, do Tadeu; a convivência com a sua esposa, como disse o
Presidente, carinhosamente chamada de Leninha, a Helena. Eu tive o privilégio
de conviver com a família do Vicente Dutra, convivi com o Pedro, com a Lúcia,
com meu queridíssimo amigo Márcio, com a Ana Paula, agora já com 12 anos, o
Felipe, seu neto.
Essa
formação familiar, o Vicente Dutra também emprestou à sociedade; uma formação
profundamente cristã, que tem como família a base de atuação, de doutrina e de
filosofia. Uma pessoa que tentou colocar em prática, conseguiu e continua
conseguindo, a doutrina social da Igreja.
Estamos
homenageando, portanto, esta extraordinária figura: Luiz Vicente Dutra, porque,
se nós temos, sim, que intensamente lutar por este País, nós também precisamos
de paradigmas, de pessoas que nos dão exemplos, como Luiz Vicente Dutra.
Porto
Alegre, hoje, por intermédio desta Casa, da qual também foste titular durante
tanto tempo - e esta homenagem, Presidente, também é uma homenagem aos
ex-Vereadores, aos homens públicos que se destacaram, muitas vezes esquecidos,
por tanto que contribuíram à sociedade -, presta uma homenagem àqueles que
tanto atuaram e depois são esquecidos. É uma homenagem aos ex-Vereadores, aos
ex-homens públicos que tanto fizeram e que às vezes são esquecidos. Ao menos, a
pessoa do Vicente Dutra, nós não estamos esquecendo; a sua atuação
extraordinária em defesa da sociedade, das pessoas mais carente, dos
deficientes, da educação, da saúde, do meio ambiente. Vicente Dutra, nosso
muito obrigado. (Palmas.)
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE (João Antonio Dib): O nosso Ver. Beto Moesch falou em
ex-Vereadores, e eu registro a presença do ex-Vereador Cleom Guatimozzim,
várias vezes Presidente desta Casa; do ex-Vereador Rubem Thomé, que ocupou
todos os cargos da Mesa, com exceção da Presidência, e também do ex-Vereador
Geraldo Stédile, que também não está esquecido, assim como os outros dois, o
que é muito bom, e o Ver. Beto tem razão.
O
Ver. Reginaldo Pujol está com a palavra e falará em nome do PFL.
O SR. REGINALDO PUJOL: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. (Saúda
os componentes da Mesa e demais presentes.) Autoridades presentes, entre as
quais eu destaco, por um dever de justiça e admiração, o Dr. Antônio Pires e o
Deputado Guido Moesch. O Thomé e o Cleom são testemunhas de um trabalho muito
sério que um jovem desenvolveu no Legislativo de Porto Alegre. O Thomé e o
Cleom foram, a um certo tempo, aguerridos adversários do Ver. Vicente Dutra e
do Ver. Reginaldo Pujol, e hoje, Vicente, nos dão a grande homenagem de estarem
presentes aqui, conosco, numa demonstração de que nós sabemos enfrentar o bom
combate, sem perder a fé e sem transferirmos para o lado pessoal as eventuais
diferenças que as circunstâncias venham a nos oferecer. Aliás, não fora o temor
da repetição, eu repetiria, hoje, aquele pensador Ortega y Gasset, que diz “que
o homem é o ser a e a sua circunstância”.
E meu caro Beto, meu jovem
Beto, que com tanta propriedade saudou o seu homenageado, o nosso homenageado,
eu quero declarar que as circunstâncias que, ao longo do tempo, têm envolvido a
minha figura com a figura do Vicente, além de coincidentes, são muito notórias
e sobretudo muito evidentes. Não fora os quatro anos de diferença entre o meu
nascimento, lá em Quarai em 1939, e o dele, quatro anos depois, aqui em Porto
Alegre, nós haveríamos de nos encontrar em vários momentos da nossa vida, Ver.
Dib, a aproximação que a circunstância nos determinava. Assim foi na política
estudantil, assim foi na nossa opção para sermos voluntários no Núcleo da
Divisão Aeroterrestre do Batalhão Santos Dumont, assim foi pela nossa precoce
militância política, assim foi pela nossa atuação conjunta na Câmara de
Vereadores, assim foi pela nossa atuação como candidatos da mesma grei
partidária, dividindo muitas vezes o eleitorado e nunca dividindo o
relacionamento.
Por
isso, meu caro Vicente, eu quero dizer que não é só o Dib que se sente
homenageado no dia de hoje, eu também estou homenageado, e muito bem
homenageado.
Eu
acho que o Ver. Beto Moesch, ao pinçar o teu exemplo, nos homenageia a todos,
porque homenageia uma Câmara de Vereadores que tinha só 21 integrantes, que
ficava empilhada nos altos de um edifício inseguro, tão inseguro que acabou
incendiado, mas onde nunca faltou o calor dos grandes debates, também nunca
faltou a serenidade dos grandes entendimentos.
Nós
tivemos muitos momentos em comum. Se o Mauro Maranzana estivesse aqui presente
hoje – e ele deve estar em espírito -, ele diria que nós erramos, em 1982,
quando não compusemos e ficamos os dois, quase Deputados, sem o sê-lo, porque
dividimos forças que eram muito assemelhadas pela nossa atuação conjunta tão
parecida. Mas disse bem o Ver. Beto Moesch: o destino, muitas vezes, escreve as
coisas pelas linhas tortas. Aquela decisão não-favorável das urnas se
encaminhou para uma tarefa muito maior. Tanto
que eu digo, com muita freqüência, Dr. Antônio, que eu tenho, ultimamente, me
encontrado com o Vicente ou nos aviões ou nos corredores das repartições
públicas, em Brasília, onde ele desenvolve uma atuação muito vigorosa na defesa
das instituições que ele representa, o que ele faz com grande eficiência, com
aquela mesma eficiência que caracterizou o seu trabalho na Fundasul, no DMLU, e
com aquele mesmo espírito de integração, comentado pelo Presidente da Casa, no
exemplo da São Vicente Mártin, que é
um dos muitos que nós poderíamos arrolar de trabalho conjunto feito pela nossa
Cidade.
Então,
quando o Ver. Beto Moesch - acredito que o mais jovem Vereador desta Casa –
traz o teu exemplo para oferecer à posteridade, ele não só cumpre uma tarefa da
confraria da São Sebastião, porque, sabidamente, essa inspiração foi feita ali
nos altos da Av. Protásio Alves, aquele bairro que ele representa e que tão bem
representaste aqui nesta Casa. Ele faz mais do que isso, ele faz um discurso do
exemplo e do gesto que nos dá a tranqüilidade de saber que a cidade de Porto
Alegre jamais esquece as grandes contribuições que seus filhos lhe oferecem, e,
hoje, é o eterno Vereador Vicente Dutra quem está recebendo a cidadania emérita
da Cidade. Amanhã serão outros, que se credenciam pelo trabalho, pela
competência, pela seriedade, pela coerência e pela honradez com que exercerem
os seus mandatos neste Legislativo.
Eu
tive o prazer de tê-lo como companheiro, e aquelas confusões em que nós nos
envolvíamos, às vezes querelas jurídicas de incompreensões, que nós desdobramos
com o nosso talento, e, sobretudo, com a força das nossas razões, são o bálsamo
que hoje nos entusiasma, já no verdor dos anos, quatro anos mais velho que o
nosso jovem homenageado, a dizer, Coronel Dastro, em alto e bom tom: que bom
que o fruto da sua relação com a queridíssima mãe do Vicente resultou nesse
exemplo tão bom, nessa figura tão querida e tão respeitada e sobretudo,
Heleninha, nesse chefe de família exemplar, que, junto contigo, está criando
filhos tão maravilhosos.
Que
bom, Vicente, Porto Alegre, que nas urnas já te reconheceu muitas vezes, agora
te reconhece pelo Legislativo, para o qual tu tanto contribuíste para a sua
afirmação. És Cidadão Emérito de Porto Alegre, vais complementar essa relação
maravilhosa do Conselho de Cidadãos Honorários de Porto Alegre, que o Dr. Stédile
preside, e darás para nós, por iniciativa do Ver. Beto, a segurança de que, de
tempos em tempos, voltarás ao nosso convívio, e isso nos trará alegria e
felicidade idêntica a que nós temos no dia de hoje ao te ver, justamente,
proclamado Cidadão Emérito da Cidade de Porto Alegre. Meus cumprimentos.
(Palmas.)
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE (João Antonio Dib): O Ver. João Carlos Nedel está com a
palavra e falará em nome do PP.
O SR. JOÃO CARLOS NEDEL: Sr. Presidente, Sras. Vereadoras e Srs.
Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) O Papa Pio XII afirmava que a política
é uma das mais importantes atividades humanas, referindo-se, provavelmente, à
definição que lhe deu São Tomás de Aquino, de que é “a arte de realizar o bem
comum”.
A política é, acredito, uma atividade especial em que se
pode, quando bem realizada, dar pão a quem tem fome e de beber a quem tem sede.
Se alguém é um vocacionado para a política, ele não pode
entesourar seus talentos, deixando de reparti-los com a sociedade para
beneficiá-la. Se esse alguém é um cristão, seu compromisso é ainda maior, pois
sabe que esses talentos são graças de Deus, e, por isso, é seu dever e
compromisso multiplicá-los.
Digo
essas coisas, meu caro Mauro Pupi, para manifestar a minha inconformidade com o
fato de que um homem da estatura de um Luiz Vicente Dutra, nosso sempre
Vereador, tenha deixado a militância política. Sei bem das razões maiores,
todas altamente relevantes, que o levaram a essa decisão. Mas quero dizer, Dr.
Justino Vasconcelos, que nos honra com sua presença, que esta Casa e o povo de
Porto Alegre sentem saudade da sua participação devotada e inteligente nas
atividades em busca do bem comum aos cidadãos porto-alegrense. Quero dizer que
esta Casa, ao conceder-lhe o título de Cidadão Emérito de Porto Alegre,
resgata, de um certo modo, a dívida que tem com Luiz Vicente Dutra por não
tê-lo conduzido à presidência na ocasião adequada, quando lhe excediam méritos
para tanto, méritos que, desde então, só fizeram renovar-se e multiplicar-se.
Quero
dizer que a sabedoria do povo porto-alegrense é maior que as eventuais disputas
de natureza político-partidária. E desse modo se fez manifestar por meio de
oportuna proposição do ilustre Ver. Beto Moesch, meu ilustre companheiro de
Bancada, a quem saúdo com efusão. Converter Luiz Vicente Dutra em Cidadão
Emérito de Porto Alegre é trazê-lo novamente para perto de nós; é colocar Luiz
Vicente em um colégio de pessoas especiais, o Colégio de Cidadãos Honorários,
concedendo-lhe, sim, o direito ao realce que merece, mas, ao mesmo tempo, com
alguma sagacidade, tirar proveito de seus talentos diretamente ao serviço da
cidadania.
Falei
há pouco da saudade, da saudade que todos sentimos da sua companhia e da sua
atividade conosco. Luiz Vicente construiu em seus anos de vida pública um
conjunto de amigos que o acompanham e o acompanharão sempre, esteja onde
estiver. Mas eu quero, Luiz Vicente Dutra, ocupar este espaço para dar um
exemplo específico e carinhoso. É o exemplo do nosso amigo querido Chico Trapo
– não é, Chico Trapo? -, líder comunitário lá da COHAB Cavalhada, que,
inclusive, aqui está aqui presente, que há mais de cinqüenta anos acompanha
Luiz Vicente, como admirador fiel e constante, pois conhece de que cepa é feito
este homem.
Eu
queria, Luiz, com a permissão do nosso Presidente, ler um pequeno bilhete que
ele te enviou, porque é muito importante (Lê): “Ao amigo Vicente Dutra. Hoje é
um dia muito especial para a nossa família em saber que hoje você está sendo
homenageado. Nós, da família Santos Silva, estamos muito felizes por esse
reconhecimento pela pessoa que você é. Só a amizade entre nossas famílias já
dura mais de meio século, já dá para conhecer tua pessoa e a educação que teve
de seu pai e sua mãe que está lá no céu. Sei que seu pai está muito orgulhoso
de você, pois você é uma pessoa boa, honesta e humilde. Agradeço a Deus por
nossas famílias se conhecerem e de eu ter um padrinho tão bondoso e generoso
como teu pai, Coronel Dastro Dutra. Um abraço da família, Tereza, Paulo,
Flávio, Regina e Lúcia. E a Vera, lá do céu, está rezando por você. Obrigado.
Chico Trapo.” (Palmas.)
Nascido
em família onde as virtudes cristãs sempre foram cultivadas, Luiz Vicente sabe
muito bem o que é bem comum, pois, já aos onze anos de idade, trabalhava em
favor dos desvalidos da sorte, como cobrador de mensalidades da Casa dos Amigos
de Santo Antônio.
Era
ainda uma criança e já conhecia o valor da solidariedade cristã – meu caro
Antonio Parizzi -, virtude que cultiva até hoje e que tem sabido passar a todos
os que lhe estão próximos.
Quando
Luiz Vicente se afastou da política, a Câmara Municipal perdeu, assim como
perderam a Cidade e sua população.
Em
contrapartida, minha cara Helena, ganhou a advocacia, que exerce, com raro
brilhantismo; ganharam as entidades sociais e filantrópicas, a que se dedica
com tanto empenho; de modo especial, ganhou a sua família, que passou a tê-lo
um pouco mais para si.
Recebe,
Luiz Vicente, da Bancada do Partido Progressista, que tenho a honra de integrar
juntamente com os ilustres Vereadores João Antonio Dib, Presidente desta Casa;
Pedro Américo Leal, nosso Líder de Bancada; Ver. Beto Moesch, proponente desta
homenagem e Presidente da Comissão de Saúde e Meio Ambiente, um forte abraço e
nossos efusivos parabéns pelo Título que a Câmara agora te concede.
Parabéns
também a Porto Alegre, por contar contigo a partir de agora, como um dos seus
mais eminentes cidadãos. Que Deus te abençoe! (Palmas.)
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE (João
Antonio Dib): O Ver. Luiz Braz está com a palavra e falará em
nome do PSDB.
O SR. LUIZ BRAZ: Exmo. Sr. Presidente da Câmara Municipal
de Porto Alegre, Ver. João Antonio Dib; Sras. Vereadoras e Srs. Vereadores.
(Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Quero cumprimentar ainda o
Sr. Justino Vasconcellos, porque o Justino é também Cidadão de Porto Alegre,
Título que lhe foi oferecido, originado de um Projeto deste Vereador. E
aconteceu uma coisa inédita quando o Justino recebeu esse Título, porque ele
foi homenageado juntamente com os seus irmãos o Luiz e o Jesner. Acho que foi
um dos únicos processos que tramitaram dessa forma. Nós queremos cumprimentar o
Justino por ele fazer parte também desse quadro fabuloso dos Cidadãos de Porto
Alegre.
Existem,
hoje, muitas pessoas orgulhosas em ouvir Vereadores aqui dizendo que
compartilhavam com o Luiz Vicente Dutra esta homenagem que está sendo feita.
Eu
conheci o Vicente Dutra já na Câmara de 1989 a 1993. Eu não conhecia o Vicente
pessoalmente; eu tinha apenas as notícias sobre o trabalho do Vicente na Câmara
no período que antecedeu 1982, porque esse foi o ano no qual eu participei de
uma eleição. Há uma pessoa aqui fabulosa que eu quero também homenagear, que me
ajudou muito para que eu pudesse me eleger naquele ano, o meu amigo Thomé, que
eu realmente respeito muito. Ele foi, naquele ano, candidato a Deputado, e me
ajudou a que eu pudesse chegar aqui como Vereador. Portanto, eu quero
homenagear o meu amigo Thomé.
As
pessoas que devem estar realmente orgulhosas hoje, Beto, são muitas, mas acho
que todos os amigos do Vicente Dutra aqui estão orgulhosos hoje de ver o Luiz
aqui recebendo esta homenagem. Mas quando vi você aqui, na tribuna, você, que é
realmente um excelente Vereador... O Pujol comentou: “Ele é o Vereador mais jovem
que nós temos aqui neste Legislativo”, e eu acredito que, nos Legislativos
brasileiros, você deve ser, realmente, um dos representantes mais jovens, e
mostra toda a sua competência ao chegar na tribuna e falar com tanta
espontaneidade, fazendo com que as pessoas todas possam compreender as razões
pelas quais você está homenageando o Luiz Vicente Dutra.
Eu
estava imaginando, aqui, o orgulho dos seus pais ao ver você se saindo tão bem
como representante da sociedade e fazendo com que houvesse seguimento àquela
estrada escolhida pelo seu pai de representar toda a sociedade, ele
representando a sociedade do Rio Grande do Sul e você representando aqui a
sociedade porto-alegrense.
Pensei
no Coronel Dastro. O Coronel Dastro eu conheci por intermédio do Luiz Vicente.
Na época em que o Vicente era Vereador, eu também era Vereador e tinha com o
Luiz uma boa amizade. Travei essa boa amizade com o Luiz exatamente pelo
excelente homem que ele sempre demonstrou ser, um caráter realmente muito
refinado, um homem de primeiríssima qualidade. Ele é honesto, sincero, muito
inteligente, conhecedor do Direito, sabe muito bem colocar as suas idéias.
Acredito que o Vicente realmente não tinha inimigos - porque, muitas vezes, no
terreno político, a gente acaba produzindo inimigos, mas ele não produzia
inimigos, produzia apenas muitos amigos e produzia também muito respeito,
porque, afinal de contas, com a sua inteligência e com a sua capacidade, ele
conseguia produzir exatamente o respeito de todas as pessoas que o cercavam.
Com
a amizade que a gente travou, o Vicente levou-me para conhecer o Cel. Dastro.
E, quando eu fui na casa do Vicente conhecer o Cel. Dastro, eu pude ter a real
idéia do motivo pelo qual o Vicente era aquele homem tão qualificado, que
integrava aquela Câmara Municipal de 1992, porque o Cel. Dastro tratou-me com
muita gentileza e não tratou dessa forma somente a mim, ele tratava todas as
pessoas que o visitavam, gostava muito de receber visitas, e o Vicente sempre
gostava de acentuar isso. Ele me tratava com muita gentileza e também a todas
as pessoas que o visitavam com tanta gentileza, que eu vi que ali estava uma
base, um fundamento para que este homem pudesse se erigir.
Você,
Beto, captou bem e acabou preenchendo uma lacuna que existia entre todos nós.
Nós não podíamos deixar esta figura do Luiz Vicente sem esta homenagem, aliás,
nós não podíamos deixar o Conselho dos Cidadãos Honorários sem ter a presença
do Luiz Vicente Dutra, porque, lá no Conselho dos Cidadãos Honorários, devem
estar todos aqueles cidadãos que se destacam dentro da sociedade e dentro das
suas atividades, e o Luiz é um cara que sobremaneira se destacou, e por isso eu
quero cumprimentar o Luiz, quero cumprimentar a família do Luiz, os amigos do
Luiz e a você, Beto, por ter realmente essa inteligência, essa capacidade que
teve de pinçar o Luiz e fazer com que ele hoje pudesse realmente se destacar
dentre todos nós, dentre toda a nossa sociedade.
Parabéns
a você, Luiz Vicente Dutra, você é um merecedor, você já era, é claro, muito
mais do que todos, cidadão de Porto Alegre, mas agora você oficialmente recebe
este Título, e eu tenho a certeza absoluta de que esta sociedade vai ganhar
muito mais agora que você integra o Conselho dos Cidadãos Honorários. Muito
obrigado. (Palmas.)
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE (João Antonio Dib): O Ver. Isaac Ainhorn está com a palavra e
falará em nome do PDT.
O SR. ISAAC AINHORN: Sr. Presidente, Srs. Vereadores e Sras.
Vereadoras. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Esta homenagem é
uma referência especial ao proponente desta Sessão, Ver. Beto Moesch, que teve
a sensibilidade, como já foi dito aqui, de resgatar a figura do Luiz Vicente
Dutra, Vereador com quem tivemos a oportunidade de privar e muito aprender, não
só nos seus conhecimentos jurídicos, não só nos seus conhecimentos do processo
legislativo, nos seus conhecimentos sobre a cidade de Porto Alegre, e aquilo
que é mais importante, além de todos os conhecimentos, a rara sensibilidade e a
bondade que sempre emanou e a forma como exerceu aqui o seu mandato durante os
anos que tive a oportunidade de conviver com ele nesta Casa.
Uno-me
à família, laços muito próximos, Ver. Ervino Besson, embora de greis
diferentes, a família Dutra diz muito para nós, diz para o Rio Grande, diz para
a Cidade, diz para nós do PDT, até porque foi V. Exa. quem homenageou, aqui,
com a concessão do Título de Cidadão de Porto Alegre o Cel. Dastro de Moraes
Dutra. E, hoje, por uma coisa maravilhosa, pai e filho integram o mesmo
sodalício, Dr. Justino Vasconcelos, integram esse mesmo Conselho de Cidadãos
Honorários da cidade de Porto Alegre. É uma coisa singular, que a todos nos
emociona, sobretudo com relação a esta família maravilhosa, cujas descendências
emocionam a todos nós. Eu falo com absoluta tranqüilidade, porque me honra ter
no meu Gabinete a irmã do nosso homenageado, Luiz Vicente, a Rosa, que há anos
está comigo. Em uma situação curiosa, ela diz uma coisa muito peculiar: “Eu
comecei, na Câmara, trabalhando com o meu irmão, em seu primeiro mandato: só
recebia padre e freira. Depois, fui trabalhar com o Jaques Machado: só recebia
pai-de-santo. E, finalmente, fui trabalhar com o Ver. Isaac Ainhorn e acabei
começando a receber rabinos”.
Então,
a Rosa é a representação da família Dutra - não é verdade, Vicente? -, no meu
Gabinete, com quem temos o mais qualificado e carinhoso trabalho no cotidiano.
É
isso que define o perfil desta família e o perfil do nosso homenageado. O
Vicente dignificou o seu mandato. Trabalhamos nos momentos mais difíceis, na
elaboração de uma Lei Orgânica. Suas contribuições, o Ver. Beto Moesch muito
acentuou, sobretudo no capítulo da defesa do meio ambiente, que aqui foi
sublinhado e enfatizado por Vossa Excelência, Ver. Beto Moesch, mas é um
trabalho permanente, diuturno. E a política?! Ah, a política, assim como ela
nos traz grandes alegrias, nos traz muitas frustrações também. Mas, nas
frustrações, nos obstáculos e nas dificuldades é que aprendemos a crescer para
quem tem a sensibilidade de saber receber uma situação e saber superar os
obstáculos.
Eu
tenho certeza de que a Helena e os seus filhos e os seus familiares hoje
exultam, porque a vida pública é maravilhosa, mas ela também nos traz a luta. E
a família Dutra também tem um exemplo de uma extraordinária figura, seu tio Tarso
Dutra, homem extraordinário que pertence à galeria dos grandes nomes da
história do Rio Grande.
Exatamente
essa é a parte final da minha manifestação, que é a reflexão sobre as alegrias
e sobre as frustrações que a política nos traz. Eu acho que o Vicente Dutra não
quer mais voltar para a política. Mas ele deixou uma trajetória de respeito, e,
se nós o convidássemos hoje, eu sei, ele mesmo, com a certeza de um contingente
extraordinário de votos, não trocaria hoje o convívio familiar, o seu trabalho
profissional extraordinário, o seu Rotary, Parizzi, as suas atividades
comunitárias, porque ele sempre foi um homem inserido dentro da sua Cidade, da
sua comunidade, e trazia lá do particular para o geral, “cantando a sua aldeia,
ele era universal”, como diria o escritor Russo, Anton Tchekhov.
Então,
foi isso que tu fizeste na tua trajetória; jovem ainda, concluíste o mandato e
disseste: a esse trabalho, a esse desempenho, a essa doação pessoal, eu não
volto, mas farei outras doações. E que bom te ver novamente nesta Casa,
recebendo o Titulo de Cidadão de Porto Alegre, é um reconhecimento ao teu
trabalho, à tua história e às contribuições que, com certeza, Vicente, ainda tu
darás e muito a essa comunidade de Porto Alegre e do Rio Grande. Parabéns a ti
e a tua família pela merecida homenagem que hoje nós te tributamos. Muito
obrigado. (Palmas.)
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE (João Antonio Dib): Registro a presença do Ver. Ervino
Besson, que foi Vereador com o Vicente Dutra quando o Ver. Ervino Besson
exercia o seu primeiro mandato. Vamos passar a palavra para o último orador.
O
Ver. Carlos Alberto Garcia está com a palavra e falará em nome do PSB.
O SR. CARLOS ALBERTO GARCIA: Sr. Presidente, Sras. Vereadoras e Srs.
Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Quando o Ver.
João Antonio Dib falou no último orador, eu sempre gosto de dar uma explicação.
Nós temos doze Bancadas na Casa, e a Bancada com o menor número de Vereadores é
a que fica por último. Sou o único da minha Bancada. Então, quando eu falo
nessas homenagens, já foi discorrido sobre quase tudo da vida e da obra dessas
pessoas.
Luiz
Vicente, eu quero também hoje trazer o carinho, o abraço da Rede Metodista de
Educação, do IPA, em especial, do núcleo cultural, por meio da Direção
Administrativa, aqui representada pelas senhoras Lorena e Neusa, Instituição em
que eu trabalho já há vinte anos.
O
que eu sempre notei em ti é que tu és uma pessoa de diálogo, de bondade e que
tu conheceste, pelos teus laços familiares sempre tiveste, pela família que tu
tiveste, a importância de servir. Isso é muito importante para a formação
pessoal. O Ver. Isaac Ainhorn falou do título que o Ver. Ervino Besson concedeu
ao teu pai. E uma coisa que eu aprendi, numa linguagem popular, é que “o fruto
nunca cai longe do pé”. Então, mais uma vez, Ver. Ervino Besson, está aí: tal
pai, tal filho. A continuidade. Eu quero parabenizá-lo, Ervino, pela iniciativa
que V. Exa. teve em 1990, porque é uma coisa rara um Vereador homenagear um pai
de um outro Vereador em um mesmo mandato. Mas, Vereador, eu o conheço e sei da
forma como V. Exa. atua, porque V. Exa., também, pela sua formação cristã, sabe
da importância de servir.
Eu
quero, também, dizer que Luiz Vicente Dutra é uma daquelas pessoas que nós podemos
dizer que, pela sua natureza, é um filantrópico. Faz parte dele isso. Como
Vereador, já discorreram suas inúmeras atividades, e ele foi um daqueles
Vereadores do tipo atuante, marcante, vibrante, e soube retribuir em serviço
aquilo que a população lhe concedeu em voto. E, sem sombra de dúvidas, foi um
dos Vereadores mais atuantes na Câmara Municipal de Porto Alegre.
Eu
disse que ele era filantrópico, pois, quando falamos em filantropia junto às
entidades sem fins lucrativos, na questão das fundações, sempre, a primeira
pessoa a ser lembrada é o Luiz Vicente Dutra. Ele é o verdadeiro “abre portas”
lá em Brasília. As instituições a que ele presta o seu serviço sabem disso,
principalmente se são ligadas à área da educação e da saúde. Luiz Vicente Dutra
é daquelas pessoas de atuação marcante, com profundo conhecimento e bondade.
É
uma pessoa que ama a natureza, e uma das coisas que gratifica qualquer um: está
sempre de bem com a vida. E é por isso que, quando se ama a natureza, se possui
família bem construída, se está de bem com a vida, se respeita as pessoas e se
é respeitado pelas suas ações, a nossa Cidade só tem de fazer isso que fez
hoje, retribuir, agradecer e dizer: Luiz Vicente, muito obrigado pelo trabalho
que desenvolveste, que desenvolves e, certamente, continuarás desenvolvendo.
Continue sempre com esse teu carisma, teu trabalho e competência.
Quero
mais uma vez agradecer em nome do IPA, em meu nome e em nome do nosso Partido,
o Partido Socialista Brasileiro. Muito obrigado. (Palmas.)
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE (João Antonio Dib): É chegado o momento da outorga do Título.
Eu, neste momento, porque entendo que a família é a célula mais importante da
sociedade, vou começar pelo neto, o Felipe, solicitando que, juntamente com o
Beto Moesch, que é o proponente, e trazendo o nosso Coronel Dastro e mais a
Leninha para que façam a entrega deste Título para o nosso homenageado. Ver.
Beto, por favor, acompanhe o nosso Coronel Dastro. E para sua orientação, Ver.
Beto, ele foi o primeiro ambientalista que eu conheci em Porto Alegre. O
Coronel e as suas hortas, quando ele levava frutas e verduras para o Prefeito
Loureiro da Silva saber das coisas que ele fazia e não era a sua obrigação.
(Procede-se
à entrega do Título.) (Palmas.)
E
agora o Vicente Dutra volta a ocupar a tribuna que tantas vezes, com tanto
brilhantismo, ele ocupou, mas agora ele vai falar só para os seus amigos, e
claro que Porto Alegre inteira vai assistir. Vicente Dutra, tens a palavra, e
eu não vou marcar no relógio. (Palmas.)
Sim,
a alma da cidade é a síntese das almas dos que nela habitam.
Só
os poetas sabem sentir na sua plenitude este pulsar e traduzi-lo como fez Mário
Quintana no seu “Mapa”: “Olho o mapa da cidade como quem examinasse a anatomia
de um corpo” e, como um amante apaixonado e ciumento da sua amada cidade, diz
que sente “... uma dor infinita das ruas de Porto Alegre, onde jamais
passarei...”
Corpo
vivo e pulsante, a cidade, por um misterioso desígnio, vez por outra, coloca
algum filho seu na posição que me encontro agora, assim como imperativa ordena
a um grupo de filhos dela e simpatizantes ouvir em assembléia.
Senti
o seu recado: “Diga, filho Luiz Vicente, coisas que aconteceram; diga dos teus
amores, aventuras, porém, fala rápido das tuas dores, se as tiver”.
Se esta é a ordem - e é a minha vez - vamos lá -
senhora “mui leal e valerosa” Porto Alegre.
Quando
comecei a abrir os olhos para o mundo, percebi que as coisas ao redor eram
boas, a natureza me impressionava, especialmente as árvores, seus diversos
formatos. Era guri de ano, dois, no máximo, e vivíamos, pai, mãe, a Marisa e
eu, numa casa alugada em uma chácara da Vila Nova, a chácara do seu Joaninho. O
cheiro forte, mas extremamente agradável de uvas, de pêssegos e melões, dos
morros que avistava distantes - onde eu achava que ali terminava o mundo -, das
cambalhotas, que chamávamos cambotas, disputadas com minha irmã Marisa, aquele
anjinho loiro e cheio de cachos, que logo, logo nos deixaria.
Não
tendo visão muito aguçada, a mãe natureza me compensou apurando meu olfato. O
cheiro de coisas me traz evocações do tempo de criança ou jovem, de móveis, de
comidas, o Studebaker que servia meu pai tinha cheiro de gasolina e de couro.
Lembro
perfeitamente dos cheiros das casas das minhas avós.
Na
casa da avó Amália aqui da Rua Washington Luiz, nº 710 - antiga Pantaleão Teles
- a não mais de 150 passos deste lugar onde nos encontramos, separada apenas
pela rua e uma estreita margem do rio, os cheiros internos eram do feijão
gostoso feito pela minha avó, do cigarro prazerosamente fumado pelo meu avô
Sebastião, do pão com lingüiça feito na chapa do fogão, que minha avó,
autêntica calabresa, fazia ali pelas 11 horas “pra reforçar”, dizia ela. Os
cheiros externos eram o cheiro de rio calmo e cheiro bom das cinzas de carvão
da Usina do Gasômetro, cheiro do novo exemplar da revista O Cruzeiro, que
folheava furtivo – o Amigo da Onça – as moças do Miss Brasil - o Millôr
Fernandes...
Eu
me vejo na grade do muro da frente a olhar o rio com barcaças “Gazolina” no
regular e sonoro “pó-pó-pó” a deslizar pelo rio infinito, som somente quebrado
pelo “carro-motor” que, de tempo a tempo, passava em frente, altivo, indo não
sei para aonde e vindo de lugares para mim misteriosos. Ah! Tinha o som do
Big-Ben do Pão dos Pobres de 15 em 15 minutos.
Logo
vem a imagem da minha avó Amália, tagarelando com suas irmãs e amigas, todas
calabresas, baixinhas e fornidas - menos a tia Justina, que me parecia mais
alta e era magra -, às vezes esticavam o rabo dos olhos para as crianças e
passavam a sussurrar em italiano. Parecia que decidiam o destino do mundo de
tão grave e compungidas, mas, de repente, irrompiam em gostosas gargalhadas,
para depois - não raro - chorarem de algo triste.
Que cena! Hoje me pergunto: que falavam de
tão sério e tão engraçado e tão triste ao mesmo tempo? Mistérios, jamais
elucidado.
Da casa da avó Tarcila, na Rua Felipe de Oliveira, 1329,
casa grande, com 17 peças, localizada no mapa em área manchada como “topo de morro”,
guardo o cheiro doce da trepadeira, das hortênsias que havia em grande
quantidade no jardim e da cerca viva que separava da casa vizinha.
Na casa da avó Tarcila não se davam gargalhadas, mas o
astral era bom. Minha avó e minhas tias liam, às vezes em voz alta, para mim -
não sei que livros e revistas. Eu brincava no grande pátio, observando as
pombas que ali se instalavam, e tinha um pé de ameixa amarela, uma nêspera ou
“ameixa do Japão” de que nos fala Erico
Verissimo de sua casa em Cruz Alta, em “Solo de Clarineta”.
Desta
casa da Rua Felipe de Oliveira, guardo ainda como lembrança mágica uma sala com
porta de vidro que nunca entrei - e acho que nenhum neto lá entrou – sempre
fechada e misteriosa.
Após
a morte da avó Tarcila, minhas tias, tios e meu pai permitiram que eu fosse o
depositário dos móveis daquela sala misteriosa, que adquiri por um preço quase
simbólico, e hoje aqueles móveis, ainda misteriosos, compõem a sala de jantar
da nossa casa.
Petrópolis
– Olha, o bairro de Petrópolis onde passamos a morar depois da Vila Nova, o
conheci por cima e por baixo, pois cansamos de percorrer, em “provas” juvenis,
galerias de esgotos pluviais das ruas Carazinho e adjacências.
Neste
bairro, em intermináveis peladas nos campinhos, que sobravam, joguei muita
bola, mas por ser ruim, quase sempre era o último a ser escolhido pela dupla
dos melhores.
Às
vezes perguntavam: “Não quer ser juiz?” Meu consolo: o Telmo era pior! Se bem
que, uma vez, defendendo as cores dos veteranos do Tupy F.C., time montado e
liderado pelo Flavio, ali na Praça Tamandaré, que nós conhecíamos como o “campo
do Bagé”, o Telmo, em confronto com um atacante, a bola bateu-lhe na cocha ou
canela e fez um semicírculo, encobrindo o goleiro, que havia se adiantado para
tentar ajudar o seu zagueiro. Foi o gol contra mais bonito feito até hoje
naquela praça de esportes.
Éramos
ruins à beça - e olha que jogamos com grandes craques – com destaque o falecido
Volnei, nosso amigo de infância, vizinho de frente da nossa casa, na Av. Bagé,
com quem jogávamos todo o dia e às vezes o dia todo. O Volnei foi craque do
Grêmio, mas antes jogou no infanto-juvenil do Inter, e nós o acompanhávamos nos
treinos duas tardes por semana no antigo Estádio dos Eucaliptos. Só para
assistir, é claro.
Falar
em Petrópolis vem logo a lembrança das matinês no Cine Petrópolis e no Ritz e
dos namoricos. Do tempo de criança, do caminhãozinho de madeira, perfeito, com
direção, freio, carroceria, encomendado pelo pai aos presos da antiga Casa de
Correção. Descíamos a toda velocidade a lomba da Av. Bagé, cinco ou seis guris
em cima, para, na esquina com a Av. Montenegro, numa guinada à esquerda, o
caminhãozinho virava, espalhando guri para tudo que era lado.
Nossa casa, comandada com
mão de ferro pelo Coronel, tinha o toque liberal da mãe. Mas não existia casa
mais divertida e agregadora. Lá se reunia a nossa turma do Clube Juvenil 31 -
das reuniões dançantes -, lá funcionava a sede do Clube de Pára-quedismo - sede
e depósito de pára-quedas, que toma espaço -, a sede do Tupy F.C., a redação do
jornal “Na Onda”, editado pelo Flavio e pelo Tadeu - 50 exemplares. Nas
refeições, era raro o dia em que não tinha um ou mais “perus” à mesa. Nossa
casa sempre era repleta de amigos dos filhos e de pobres em qualquer
quantidade. “Mãe, a dona Izaltina chegou!”
Era
uma pobre de carteirinha, ela, os filhos, noras, todos eram atendidos pela
minha mãe, que era Vicentina da paróquia de São Sebastião.
Um
dia, na Av Bagé, meu pai acolheu uma família inteira de pobres – 5 ou 6 membros
– lá ficaram por um bom tempo residindo na garagem – que nós usávamos como
cozinha. Nossa casa sempre foi um entra-e-sai de jovens e pobres.
Na Av. Bagé nunca se colocou lixo na rua, pois
já fazíamos a reciclagem naqueles idos, o orgânico era enterrado na horta do
pai, que ele trabalhava aos finais do dia e nos fins de semana. Tinha um pé de
mamão que, acreditem, bem adubado, deu 80 mamões numa safra – numerados a
carvão. Dessa horta, guardo o cheiro do tomateiro, especialmente quando
molhado.
Muita reza na Av. Bagé,
especialmente quando ia a capelinha até nossa casa, aí rezávamos, de joelhos,
com vizinhos, o terço, coordenado pelo pai. Um dia rezamos para que se
conseguisse vender uma camionete Fordson - uma caricatura precursora da Kombi
-, que vivia estragando. Também pudera, transportava toda a nossa família - 8
filhos, mais os pais, mais um ou dois amigos -, a pobre da Fordson não ia bem.
Acabamos de rezar e bateram à porta – era um pretendente, que a comprou por um
bom preço - um conto de reis. Era muito dinheiro, pelo menos para nós.
Outra
feita, o pai tinha um DKW alemão usado, mas usado de 4ª mão, que também vivia
estragado. Numa dessas pifadas, em frente à Faculdade de Medicina, da UFRGS,
passou um alemão dirigindo outro DKW, parou e terminou fazendo uma oferta para
meu pai, que logo aceitou, pois era ótima. O alemão, quando foi até nossa casa
para pagar o combinado, concluiu com ar de satisfação: “DKW, melhor carra do mundo”. E se foi com aquela
bomba.
O
velho trabalhava à noite no jornal Diário de Notícias como revisor para
melhorar a baixa renda da família, e nós comíamos o “pão que a Brigada amassou”
– no bom sentido – visto que a “briosa” atrasava o salário em até seis meses
naqueles idos de 1950 e início de 1960. Nos valia o rancho mensal da
Cooperativa da Brigada – situada aqui no Menino Deus – Rua André Belo. O Telmo
ou eu ou os dois íamos semanalmente até a padaria da BM buscar o Pão, que tinha
de durar uma semana.
Para vocês terem uma noção
do que era a nossa vida, a festa de 25 anos de casamento de meus pais foi
festejada dentro do Presídio Central. Explico: meu pai era o Diretor-Geral e,
para prestigiar os presos, fez a festa lá - sem cerveja, é claro. Tempos
depois, os presos fizeram uma revolta e tomaram o presídio - talvez tenha sido
o único caso do mundo de revolta para permanecer um Diretor que se demitira. O
Coronel era enérgico, mas profundamente humano com os reeducandos, como ele os
chamava. Minha mãe também trabalhava na assistência social e na enfermaria do
Presídio.
Para ajudar em casa,
comecei a trabalhar aos 12 anos, primeiro como cobrador das mensalidades da
Sociedade Amigos de Petrópolis – que era pujante naquela época.
Ganhava 10% sobre as
cobranças. Logo em seguida, com a “larga” experiência de alguns meses, passei a
cobrador da Casa dos Amigos Santo Antônio. E, como não se fazia a cobrança há
mais de seis meses, a maioria dos colaboradores pagou os atrasados - alguns
parcelavam –, com a comissão de 10%, deu para dar entrada na compra de uma
bicicleta, meu sonho infanto-juvenil. Lembro-me do cheiro forte, gostoso, de
borracha dos pneus. Ao abrir aquela caixa de sonhos, foi um dos dias mais
felizes da minha vida – conseguir a bicicleta e com o meu dinheiro.
Emprestava a minha Baxter
a meus irmãos – meio contrariado.
Lembranças do cheiro de giz
e de merendas do Colégio Santa Inês, da Irmã Helena e de tantas irmãs que nos
ensinaram as primeiras letras, do Colégio Rio Branco - percorríamos o trajeto
da nossa casa até o colégio a pé.
Lembranças
da alegria em vestir pela primeira vez - parecia um sonho -, a camiseta verde
do Colégio Rosário, dos Irmãos Maristas, onde fiz o Admissão e parte do
Ginásio. Fui concluir o Ginásio no Rio Branco, à noite, e o Científico no
Infante Dom Henrique. Classifiquei-me muito bem no vestibular de Economia da
PUC, mas findo dois anos de Microeconomia, Estatística, Contabilidade e afins,
não agüentei mais as ciências exatas e me submeti novamente ao vestibular para
Direito, agora na Unisinos, curso que conclui na PUC, em 1976.
Pára-quedistas
- Larguei um bom salário do banco onde trabalhava para me lançar na aventura de
servir como voluntário no regimento Santos Dumont como pára-quedista militar.
Quando fiz os exames de ingresso, ainda não completara 17 anos. Nesta aventura,
formávamos um grupo de gaúchos e lá estávamos sempre juntos dentro e fora do
quartel. O Rio de Janeiro, de 1961, era todo nosso, suas praias, carnaval,
namoricos em Marechal Hermes e muita, mas muita ordem unida, ginástica
calistênica, área de estágio e dê-lhe prontidão – naquele agitado ano que culminou
com a renúncia do Jânio Quadros - no Dia do Soldado, 25 de agosto. O 1º
Exercito sediado no Rio de Janeiro, com destaque os pára-quedistas, fazia
manobras visando a atacar Porto Alegre, mais precisamente ao Brizola, que
comandava a resistência no Sul para a posse democrática do Vice-Presidente João
Goulart.
À
boca pequena corria entre os gaúchos, que era o maior contingente, fora os
cariocas, que, após descer no Aeródromo de Gravataí, como estava programado,
todos desertariam e rumariam para suas casas, acolhendo os que são do Interior,
pois “ninguém iria atirar nos irmãos”. Não sei até que ponto isso se espalhou,
diziam que todos os sargentos estavam nessa combinação e até alguns oficiais.
Não saiu o ataque, graças ao acerto político que instituiu o Parlamentarismo,
permitindo assim, a permanência do Presidente João Goulart na Presidência.
Fiquei sabendo depois que o Telmo estava inscrito nos chamados “grupos de
provisórios”, integrado pelo pessoal da nossa turma de Petrópolis.
Dei
baixa no dia 30 de novembro de 1961, três dias após completar 18 anos.
Depois
fundamos o Clube de Pára-quedismo do RS – O Parasul – em 3 de junho de 1963, o
qual tive a hora de presidir por um bom tempo.
Quanta
aventura, a Helena me conheceu neste período.
Rememorando
o pára-quedismo, no Rio, como militar, e no Parasul, surge logo a imagem do
Luiz Fernando Oestreich – o alemão Oestreich - que, de tanto aprontar por conta
do seu tipo distraído – aprontou a última nos deixando ainda jovem, 30 dias
após ter casado. Alguém me deu a notícia: “Senta que o ‘Alemão’ aprontou mais
uma”. “Qual foi agora?” “Simplesmente morreu ...este Alemão!”
Ainda
hoje, Kausch, Estrada, Evlani, Rangel, Castro e tantos outros, tenho sonhos
recorrentes, sonho imagens do nosso tempo de milicos pára-quedistas, sonho
saltos com acrobacias, que jamais fiz tão precisas.
Sonho
com um tempo em que éramos absolutamente livres e voávamos feito condor por
esse céu infinito.
Bancário
- Convidado pelo meu tio Justino Vasconcelos, ingressei como “auxiliar de
contínuo”, ou seja, office boy -
tinha quatorze anos – no Banco Rio-Grandense de Expansão Econômica – depois
adquirido pelo Banco da Bahia - hoje Bradesco. Fui bancário por 8 anos,
contando um ano fora de licença, para servir. Foi um tempo bom, de muito
aprendizado, de disciplina administrativa. Naquele tempo ainda não havia
computador. Por intermédio de uma colega do banco – a Vera Morem – conheci a
Helena Maria. Mas isso é outra história!
Cáritas
– Recebi, certa feita, um convite do saudoso Pe. Paulo de Nadal, e, com um
salário irrecusável, deixei o Banco da Bahia e fui trabalhar como uma espécie
de Secretário Geral da Cáritas Regional do RS – na Av. Ipiranga. Ajudava o Pe.
Paulo de Nadal a montar um programa sobre Cáritas e a Cidade de Deus na Rádio
Difusora aos sábados, à tarde - depois passei esta tarefa para o Flavio, que,
na época, editava junto com o Tadeu o famoso jornal “NA ONDA”, de 50
exemplares. O Tadeu também veio para me ajudar nas tarefas do Departamento
Jurídico da Cáritas. Quanta rica experiência no Secretariado de Ação Social –
dentre estas, a Cidade de Deus – 74 hectares na Cavalhada - onde o Pe. Paulo
lançou a 1ª experiência de casas populares construídas por iniciativa privada.
Foi
ali na Cáritas que peguei gosto pelo trabalho jurídico com entidades sem fins
lucrativos – hoje designadas como do Terceiro Setor. Atividade que exerço até
hoje e quanto mais trabalho, mais tenho entusiasmo para defender dos constantes
ataques fiscalistas. Hoje coordeno a Comissão Técnica do Movimento Nacional
liderado pelo CONIC, que negocia com o Governo um novo marco legal para o
Terceiro Setor.
Amanhã,
às 6h30min, sigo para Brasília para fazer sustentação em 4 processos de
entidades do RS e, à tarde, participar de reunião com a Comissão
Interministerial e representantes do nosso Movimento.
Câmara
- Um dia, meu tio Tarso me chama e convida para eu concorrer a um mandato de
Vereador em Porto Alegre. Concorri na eleição de 1972, onde fiquei na quarta
suplência da Arena. Depois, nas eleições de 1976 e de 1988 alcancei o mandato
popular com boa votação, que me valeram ao todo 10 anos de mandato integral,
não contando as vezes em que assumi como Suplente da eleição de 1972.
Nesta
Casa, aprendi muito, principalmente a tolerância, o respeito ao outro, e
profissionalmente o aprendizado é incomensurável. Que me desculpem os colegas
advogados, não há escola maior de advocacia do que essa em que o Vereador
assume e exerce ao mesmo tempo funções de acusador, defensor e de julgador, de
criador da regra e de seu fiscal, num processo dinâmico, que obriga o Vereador
a se revestir de funções aparentemente tão díspares, mas que, na verdade, são
harmônicas. De outro, o Vereador tem de lutar por causas coletivas, mais ai se
não atender individualmente àqueles que o procuram. Isso tudo eu vivi e sei que
a função do Edil é das mais exigentes, das mais trabalhadas, pois o eleitor
pouco vai à Assembléia Legislativa e nunca vai ao Congresso, em Brasília, mas,
ao Vereador, ele vem, mesmo sabendo que aquele assunto é da alçada do Estado ou
Federal-limpeza das pastas.
Rotarianos
– Vejo aqui a presença de companheiros do Movimento Rotário – ingressei no R.C.
Independência em dezembro de 1972. Presidi meu clube na gestão 84/85 e, nesta
Casa, tive oportunidade de propor diversas homenagens desde o Presidente
Internacional Ambassai, ao Dr. Edgar Diefenthaler, ao Carmine Motta, ao
Governador Lary Hubner
Criamos
a Praça Rotary e nela transplantamos figueiras que cresciam em cinamomos,
criamos o Bosque do Rotary no Parque Marinha do Brasil – e o Bosque das
Figueiras – sempre com o apoio unânime dos meus pares desta Câmara Municipal.
Criamos o Programa Juventude Sadia – funcionando até hoje – agora coordenado
pela ACM, na Vila Cruzeiro – atendendo cerca de 500 crianças diariamente.
Fizemos a transição de administração do Amparo Santa Cruz para os Padres da
Congregação de Dom Orione – presente o atuante e Cidadão de Porto Alegre e
nosso sócio Pe. Rômulo Mariani.
O Rotary financia em todo o mundo vacinas para erradicar a
varíola até 2005 – quando completará 100 anos de existência. Dos companheiros
Rotarianos, recebi profundos e valiosos ensinamentos de dedicação e de amor ao
trabalho à comunidade, que muito tentei aplicá-los aqui nesta casa.
Helena Maria - A Helena foi um presente que a mão divina
conduziu de Florianópolis para jogá-la nos braços deste guasca, e ainda guasca
de asfalto. Filha única - criada com todo cuidado por mãe, tias, tios, avós,
babás, etc., logo veio cair para mim, mais velho de 8 irmãos e criado “em
série”, como dizia minha mãe.
Seguindo a tradição, deu voltas na figueira da Praça XV, de
Florianópolis. Completadas as voltas, uma força de atração incontrolável a
conduziu a Porto Alegre, para onde vieram de muda seus pais. Dizem que isso se
deu, porque a Leninha, na verdade, deu 15 voltas na velha figueira
casamenteira, para garantir um bom casamento com um príncipe maravilhoso.
Coitada!
O destino de Dutra e Heleno Maria se cruzou numa reunião
dançante. Aliás, a última reunião do Clube Juvenil 31, lá na casa da Av.
Montenegro, nº 82.
Mas naquela noite apenas sorriram um para outro. E nada
mais.
Depois, ela inventou de fazer uma reunião na casa dela.
Estava programada para um sábado, que era o sábado seguinte ao dia da Revolução
de 31 de março de 1964. Suspendeu a reunião, pois morava na Rua Riachuelo,
próximo a zona militar. Todos foram avisados da suspensão, todos, menos um.
Adivinhem quem?
Olhares surpresos... “Não te avisaram? Mas que pena! Bem, já
que estás aqui, entra um pouquinho, vamos tomar uma Coca.” Entrei e nunca mais
saí.
A ti, Helena, dedico esta homenagem, pois, se tive algum
mérito para recebê-la, tu o tiveste muito mais, agüentando as pontas de uma
família com quatro filhos, chorando sozinha, pois nem parentes de sangue tinhas
aqui, eu era o teu único “parente” por força do casamento. Sei que nunca fui
nem de longe aquele marido que esperavas nos teus devaneios de menina, com toda
a tua vocação de esposa e mãe amorosa e incansável. Geramos ótimos e belos
filhos: o Pedro, o Márcio, a Lúcia e a Paula, cada um a seu jeito, filhos que
se nos deram alguma preocupação, mas nos proporcionaram, em compensação, com
tantas e tantas alegrias, e mais Felipe, neto maravilhoso, carinhoso, um anjo
surfista, filho de pai e mãe surfista. E a Patrícia, nora querida que veio se
somar, mais uma filha.
Deus, que sempre é extremamente generoso comigo, nos itens
filhos e neto foi 10 e no item mulher, exagerou.
Neste final, evoco,
agradeço a Deus pelos meus pais, pela Anita, atual e zelosa esposa de meu pai,
aos meus irmãos Marisa, Silvia, Telmo, Rosa, Flávio, Tadeu, Paulo e Cristina, e
por tantos amigos que cultivei e os tenho presentes hoje.
Aos tios, tias,
sobrinhos, aos irmãos do grupo Joãozinho, do Cursilho, meu agradecimento por
tudo que recebi de vocês. Aos irreverentes amigos do Juvenil, que possamos
ainda por muito tempo confraternizar na nossa catarse gastronômica semanal.
Marisa, Silvia e Paulo
já descansam junto com a nossa mãe, Télia, e o Leandro, nosso querido sobrinho,
no seio quente desta terra, que tantas e tão boas lembranças nos deixaram,
sobretudo a alegria.
Por isso, caríssimo Ver.
Beto Moesch, se fiz alguma coisa boa para esta Cidade, fui muito bem pago, pois
ela me concedeu o prazer de dizer – com certo e incontrolável orgulho – que sou
daqui. Que esta é a minha amada querência.
Portanto, recebo esta
homenagem com um gesto de amizade que fortalecemos no pensar nas mesmas causas,
particularmente na defesa do meio ambiente, que nesta Casa tive o privilégio de
criar regras inovadoras, pioneiras, sempre com apoio quase unânime dos demais
colegas Vereadores. Tu, Beto, com esta garra de surfista, mas com o profundo
conhecimento da legislação ambiental, que dominas como ninguém, segues com mais
brilho e entusiasmo a luta e os sonhos dos velhos combatentes, que hoje, por
força de outros desígnios estão em outras pelejas.
Agradeço, também, aos
Vereadores que foram tão generosos com este ex-colega. Agradeço aos que vieram
me trazer o calor do abraço e o sorriso generoso do bem-querer, que, com seu
gesto de presença, me acariciam e acariciam esta querência chamada Porto
Alegre. Muito obrigado. (Palmas.)
(Não revisto pelo
orador.)
O SR. PRESIDENTE (João Antonio Dib): Encaminhamos-nos para o encerramento
desta justa, justíssima homenagem. Olho para o Cleom, olho para o Thomé, para o
Pujol, que aqui estava, e lembro-me do grande Presidente que esta Casa teve,
José Aloísio Filho, que também foi o Presidente do Vicente Dutra. Lembro que
ele sempre dizia: “Dib, quando um Vereador é destacado é a Casa que se
destaca”. Hoje, um ex-integrante da Casa é o nosso destaque, hoje um
ex-integrante da Casa - o Aloísio lá em cima deve estar olhando -, está fazendo
a Casa um pouquinho maior. E, neste momento, eu preciso agradecer pela presença
de todos, as autoridades religiosas que compuseram a Mesa, as autoridades
judiciárias, aos políticos que aqui estiveram, ao Beto Moesch, que propôs a
homenagem, a cada uma das senhoras e a cada um dos senhores, todos amigos do
Vicente Dutra, aos familiares do Vicente Dutra, ao Felipe, que tenha sempre
como exemplo o seu avô, pode olhar, também, para o seu bisavô, pessoas
absolutamente corretas, e dizer que todos os senhores sejam muito felizes e,
antes de convidá-los para ouvirem de pé o Hino Rio-Grandense, eu digo saúde e
paz!
(Ouve-se
o Hino Rio-Grandense.)
A
todos, muito obrigado, muito boa-noite. E o Vicente Dutra e família convidam
para confraternizar. Saúde e paz!
(Encerra-se
a Sessão às 21h35min.)
* * * * *